Revista Viver Brasil

Postado dia 14 de dezembro de 2012 em

imagem-blog

IMG_4313

Eles foram contemporâneos da Faculdade de Arquitetura da UFMG, já admiravam o trabalho um do outro e se formaram na década de 1990. Trabalharam com grandes arquitetos e tiveram a mesma formação ideológica e conceitual. Não é difícil imaginar que a amizade tenha caminhado para a parceria profissional. Em 2000 nasceu a BCMF Arquitetos formada por Bruno Campos, Marcelo Fontes e Silvio Todeschi que, com talento e criatividade, estão conquistando espaços inimaginados. O reconhecimento veio logo e pouco tempo depois de o escritório ser escolhido para fazer os estudos conceituais para a candidatura Rio 2016 (vencendo as quatro cidades concorrentes Chicago, Madri, Rio e Tóquio). Em 2010, assinaram contrato com o consórcio Minas-Arena para assumir o projeto executivo de revitalização do complexo do Mineirão, tornando-se assim o primeiro escritório de arquitetura do Brasil a ter participado dos três megaeventos esportivos que prometem transformar o país: Pan 2007, Rio 2016 e Copa 2014.
A repaginação do Mineirão foi um projeto de grande porte, com intervenções em local equivalente a 20 quarteirões, três vezes a do Pan. “Trabalhamos as áreas externas e internas e projetamos a Esplanada, espaço com 200 mil metros quadrados construídos, sendo 80 mil de praça em desníveis, recurso usado para adaptação à topografia existente. O restante é de estacionamento coberto, 7 mil metros quadrados de área comercial, Museu do Futebol, áreas técnicas e de logística”, diz Bruno.
Silvio Todeschi acrescenta que, em termos de design, as principais inovações se deram no redesenho completo da Esplanada, que passou a ter nova geometria e a se desdobrar em diversos níveis, refletindo a assimetria do terreno e de sua topografia. “Esse redesenho foi preciso para minimizar o impacto da inserção da imensa área construída ao redor do estádio, facilitar a acessibilidade por todos os lados e valorizar a presença do Mineirão, bem tombado pelo Patrimônio Histórico, na paisagem da Pampulha.” Além disso, explica, com a adoção de platôs escalonados em diversos níveis, conectados por uma série de rampas, planos inclinados e escadas em proporção de arquibancada que se acomodam ao entorno, foi possível também introduzir equipamentos comerciais e de lazer estrategicamente distribuídos em cima da Esplanada, valorizando o espaço.
O projeto contempla também a relação urbanística do Mineirão. “O estádio começou a ser planejado na década de 1940 e ficou pronto em 1965. Sempre fez parte da orla da lagoa da Pampulha. Nossa preocupação inicial foi saber como inserir 200 mil metros quadrados em volta do estádio de forma que essa intervenção fosse respeitosa, preservasse a vista, que não virasse obstáculo à vizinhança e permitisse acessibilidade por todos os lados. Optamos pelos desníveis”, explica Marcelo.
Bruno diz que o Mineirão ficou quase como uma acrópole. “A topografia é artificial e intencional, para proporcionar movimento, integrar. Aproximamos as arquibancadas do gramado. A cobertura ficou mais fechada, o que dá sensação mais intimista. Um dos desafios foi intervir em uma estrutura já existente e tombada. Os 88 semipórticos estruturais e a arquibancada superior foram mantidos, o restante foi completamente destruído. Criamos um projeto de nível internacional, totalmente novo, que privilegia a segurança, os equipamentos de última geração, espaços multifuncionais.”
É óbvio que qualquer arquiteto ficaria orgulhoso em participar de um projeto dessa envergadura. “O Mineirão é um ícone do esporte e da arquitetura brasileira. O estádio que será usado por milhares de pessoas tem um lugar especial na história de Belo Horizonte, além de estar inserido no contexto da lagoa da Pampulha, no entorno das obras projetadas por Oscar Niemeyer, referência fundamental da história da arquitetura moderna. Assim, para nós foi uma honra e oportunidade única trabalhar nesse projeto de requalificação arquitetônica e urbanística”, acentua Bruno.
O trabalho apurado de pesquisa, o acompanhamento da obra, os detalhes finais, tudo a tempo e a hora foram recompensados. Bruno se orgulha pelo cumprimento do cronograma. “Conseguimos entregar, no prazo e com alta qualidade, essa obra histórica para a cidade e o país. Foi emocionante estar presente na cerimônia de inauguração e perceber a reação de todos. Estamos ansiosos para ver de perto o funcionamento do estádio durante os jogos e eventos, além das pessoas usufruindo da Esplanada no dia a dia da cidade.”
Do ponto de vista técnico e programático foram introduzidas diversas inovações para adequar a reforma aos novos requisitos do Caderno de Encargos da Fifa, à nova regulamentação expedida pelo Corpo de Bombeiros e à recente Lei Geral da Copa, normas de acessibilidade. Bem como para potencializar as possibilidades de exploração comercial e garantir a sustentabilidade econômica do complexo.
Silvio Todeschi lembra que o escritório tem por princípio acompanhar com atenção todo o processo produtivo. “Não terceirizamos nada a fim de que os projetos tenham coerência arquitetônica”, diz ele, enquanto mostra o casarão dos anos 1920, no bairro São Pedro, onde uma equipe flutuante entre 12 e 25 profissionais trabalha literalmente atrás das moitas de bambu, em um galpão, gestando projetos.