Torres Serenas
O Vila da Serra e o Vale do Sereno são bairros relativamente novos e de alto luxo na divisa entre os municípios de Belo Horizonte e Nova Lima, em Minas Gerais e estão entre os mais valorizados da cidade. Com vista para as montanhas, a região é repleta de condomínios, resorts e casas de alto padrão. Em função das crescentes restrições de adensamento e a saturação da tradicional Zona Sul da cidade, tem havido um grande afluxo de pessoas para essa região de grande beleza natural nos últimos anos.
Esse grande e rápido movimento de expansão urbana não tem sido acompanhado pelo planejamento de infraestrutura e áreas públicas, deixando a região com precária ambiência urbana no nível do pedestre. A região é caracterizada, em sua grande parte, por ter usos frequentemente segregados, em que não há muita integração entre espaços comerciais e habitacionais, diminuindo a praticidade dos moradores e estimulando a necessidade do uso de veículos para percorrer até mesmo pequenas distâncias, já que as ruas não são convidativas para a permanência do pedestre. A maioria das atividades comerciais estão centralizadas no BH Shopping, o maior da cidade e a grande centralidade do bairro, ou em “Street Malls” ao longo da rodovia e avenida principal.
A implantação típica do empreendimento “padrão” desta área é basicamente uma ou mais grandes torres verticais (com dezenas de unidades multifamiliares de alto luxo) implantadas em grandes lotes com topografia fortemente acidentada, quase sempre dotadas de extensas áreas comuns voltadas ao lazer (“condomínios-clube” ou “condomínios-resort”), que por sua vez são construídas cima de uma série de níveis de garagem. Nesse tipo de empreendimento vertical em terrenos acidentados, é comum a construção de paliteiros ou paredões para a fundação das garagens, aproveitando o desnível da topografia do vale mas matando a vida das ruas de baixo e deixando as suas fachadas inativas e sem nenhuma ambiência urbana, em pelo menos um dos lados da rua.
Com o intuito de romper com esse padrão de implantação da região, e estimularmos a vida em ambas as ruas (a de cima e a de baixo) do empreendimento, nos aprofundamos no estudo da Lei de Uso e Ocupação do Solo de Nova Lima e notamos a existência de um recurso pouco usado. Segundo a lei, é permitido um acréscimo de 10% no coeficiente de aproveitamento de edifícios desde que o pavimento térreo permaneça aberto para uso público e para a livre circulação de pedestres com praças e terraços. A partir dessa informação, quase que desconhecidas pelos empreendedores, e trabalhando com o mesmo envelope rígido de limitações e condicionantes definidos pela lei, nossa proposta quebra o volume típico da base através de um embasamento escalonado que se adapta à topografia transversalmente e longitudinalmente, permitindo a criação de novos espaços inéditos no bairro.
O pavimento térreo é transformado então em um “open mall” escalonado, conectado por escadas e rampas, aberto ao uso público de dia e à noite, em que as coberturas das lojas são praças e terraços tratados paisagisticamente, que funcionam como áreas comuns tanto para moradores quanto para pedestres em geral. Este embasamento também permite a permeabilidade da quadra e aprimora o caráter urbano das ruas, funcionando como uma nova centralidade no bairro. Acima desse embasamento, o edifício de uso misto é composto por duas torres (residencial e comercial) separadas por distância estratégica entre si e deslocadas para preservar a vista, implantadas sobre uma base com um hall de pé direito quádruplo, unidas por uma ponte envidraçada que vence o vão das duas torres (“Sky Lobby, área contendo a área comum da torre e em seu topo, basicamente um mirante em forma de praça suspensa). As torres têm basicamente 20x20m com um núcleo estrutural central (circulação vertical) e estrutura modulada de 5 em 5m em seu perímetro. A distribuição dos 16 pilares no perímetro da fachada liberam o vão livre interno de 360m2 da laje, permitindo uma grande flexibilidade de tipologias, combinações de tamanhos e escolhas de layout, que movimentam a fachada.
Dessa forma, o projeto tem a ambição de ser uma nova tipologia de edifício híbrido (multi-uso) verticalizado em terrenos acidentados, desenhados a partir dos condicionantes topográficos e legais locais, com um embasamento e implantação inéditos para o bairro, que gera valor não apenas para os moradores e usuários do empreendimento, mas beneficia a própria cidade por meio da integração entre espaços públicos e privados, funcionando como uma nova centralidade para a região.