Centro Administrativo de Belo Horizonte

Concurso – Centro Administrativo de Belo Horizonte

Enfrentamos uma situação recorrente nas cidades, fissuras que subdividem o tecido urbano, produzindo grandes falhas entre as regiões. A área compreendida por este edital, a passagem da Praça da Rodoviária à Estação Lagoinha e desta à Praça do Peixe, prova que Belo Horizonte é uma cidade rachada. A atual estrutura urbana não mostra soluções para os problemas que a cidade tem. Com todas as possibilidades de como encarar esse problema, uma realidade se apresenta: nós podemos unir essa cidade. Belo Horizonte precisa ser tratada e vista como um todo. Acreditamos em uma cidade que possa resgatar o domínio público para o pedestre. Contudo, a questão que permanece é: como podemos fazê-lo e o que isso significa?

Deixando de lado a complexidade dessa tarefa, devemos primeiramente atender a uma das necessidades humanas mais básicas. A necessidade de habitar o espaço. Como arquitetos, devemos pensar espaços que abarcam todas as formas de comportamento. Espaços que tenham individualidade mas que também sejam capazes de absorver diversidade e caos. Por isso nossa proposta respeita o que já funciona, e ao mesmo tempo aumenta a adaptabilidade dos espaços. É uma proposta que busca atender às questões atuais, mas mantém em mente a possibilidade de transformação no futuro.

Considerando a situação urbana que encaramos, parece que, aos poucos, a relevância de construir uma cidade para pedestres está desaparecendo. Torna-se evidente que os pedestres são os mais afetados pelas fraturas produzidas pelo sistema viário atual: o excesso de infraestrutura viária divide, separa. Este é o porquê de considerarmos o acesso de pedestres um dos elementos-chave dessa proposta.

A Lagoinha, principalmente nos anos 1960, era considerada a zona boêmia da capital, até que o bairro entrou em decadência. Este declínio deu-se sobretudo pela construção de túneis e viadutos e com a chegada do trem metropolitano ao coração do bairro. A região sofreu uma deterioração gradual, ao receber cada vez mais viadutos e avenidas, sem que o espaço do pedestre e do morador do bairro fosse levado em conta. Antes do impacto da construção das rodovidas, a Lagoinha era um bairro vigoroso e conectado ao resto da cidade. Nosso objetivo é conectá-la de volta a Belo Horizonte.

O esforço de criar espaços que incentivem e permitam a interação cultural é imperativo em Belo Horizonte. O fluxo de pedestres atual será reconfigurado a partir desta proposta: a passagem da Praça Rio Branco (Praça da Rodoviária) à Praça dos Peixes, passando pela Estação Lagoinha, será um espaço com uma identidade única. Considerando a área da intervenção como um continuum, esta poderá funcionar – e ser apropriada pela comunidade – como um todo. Por meio desta proposta, pretendemos trazer a ideia de pont habité para a região, ao considerar que é possível que as áreas de passagem sejam ocupadas com comércio, atividades ao ar livre, eventos, entre outros.

Além de todas as características urbanas que precisam ser cuidadas, esta área de intervenção tem um potencial-chave que trabalha em nosso favor. É uma área viva e inquieta. Existe uma paleta de interações que, dia a dia, acontecem. Nosso entendimento da ocupação atual do espaço traz à mesa camadas de informação. Entretanto, o desafio presente está no fato de que essas interações estão acontecendo de maneira muito informal. Traçando essa linha de pensamento, nosso design aproxima-se da ideia de uma arquitetura não-invasiva, mas que estrutura e formaliza essa interação. Com pequenas intervenções,  como iluminar a passarela de pedestres, permitimos a justaposição de atividades que hoje já acontecem, como o comércio informal que lá existe. Estamos explorando a possibilidade da apropriação de espaços, fazendo-o mais seguro e usável.

É nosso dever nos familiarizar com o que a cidade oferece. Ao abraçar o que deve ser preservado, temos como meta a acomodação, e não a exclusão.  É o caso do estacionamento do edifício da atual RISP, que será transformado em uma praça aberta ao público, além de incorporar áreas verdes na paisagem.

O Centro Administrativo de Belo Horizonte (CAMBH) funcionará como um farol para a cidade, em um local de importância histórica e social. O edifício foi concebido como uma estrutura que pode servir de ponto de referência ao nos movermos pela cidade. É uma estrutura que se beneficia da simplicidade de sua forma e da elegância de sua verticalidade. O desenho foi pensado como uma torre que representa a culminação de um dos mais importantes eixos do plano urbano de Belo Horizonte, a Avenida Afonso Pena. Sua presença resultará na criação de um ícone. A verticalidade da torre segue a lógica da redução de pegadas, a resposta ideal a um contexto urbano cujas conexões visuais, ao nível do pedestre, não seriam comprometidas. Trata-se de um edifício que, além de icônico, terá complexidades e usos diversos, tanto para os funcionários da PBH, como para aqueles que necessitam de seus serviços e para o transeunte.

O Centro Administrativo acomoda espaços diversos no nível do subsolo, que funcionará como um lugar de lazer, com um auditório e uma área de comércio. Embora localizado no subsolo, a luz natural, obtida a partir de aberturas no teto, propiciará uma atmosfera diáfana. O espaço comercial será localizado no limiar entre a Rodoviária e o espaço que abarca a estação de metrô e o auditório. O fácil acesso entre esses espaços e a praça, no nível superior, criará uma conexão visual entre os usuários do metrô, os frequentadores da área comercial e os transeuntes. Portanto, existirá uma interessante justaposição das velocidades dos fluxos entre o novo Centro Administrativo e a Rodoviária. Podemos distinguir três velocidades principais: as pessoas que aguardam atendimento na recepção da área do CAMBH, a velocidade dos pedestres e, por último, a velocidade do metrô.

O atual estacionamento da Rodoviária será transformado em uma praça que funcionará como um condensador social. Áreas verdes na praça revitalizarão a presente condição do local, e o ato de passar tornar-se-á uma experiência mais amena.

No lugar de barreiras evidentes, defendemos um esquema de espaço diverso, em que pedestres compartilharão a rua com o transporte público e os ciclistas. Queremos criar uma superfície contínua que introduza uma extensão de velocidades diferentes, atualmente separadas pelas calçadas (para os pedestres) e pela via principal (para o transporte público). A continuidade que governa esse esquema permite a coexistência de pedestres e do transporte coletivo.

É nosso objetivo que esse projeto abrace o imprevisível e responda às demandas que Belo Horizonte apresenta, para criar uma arquitetura simbolicamente plural.



Projeto: Concurso Público Nacional de Projeto De Arquitetura para o Centro Administrativo do Município de Belo Horizonte
Localização: Belo Horizonte, MG
Ano: 2014
Autores: Bruno Campos, Marcelo Fontes, Silvio Todeschi, Fernando Maculan
Equipe: Bernardo Hidalgo, Fabiola Guzmán Rivera, Patrícia Bueno, Ricardo Lobato, Mateus Machado, Marcela Figueiredo, Maíra Bueno
Status: Projeto

Tags:  Concursos