BERNOULLI CIDADE JARDIM
A nova unidade do Colégio Bernoulli, assinada pelo escritório BCMF Arquitetos, acaba de ser inaugurada no bairro Cidade Jardim em Belo Horizonte. Desta vez, em um imóvel histórico e icônico, presente há 70 anos no coração da cidade, que hoje, após 4 anos desocupado, escreve um novo capítulo na história do edifício.
Construído em 1950 para abrigar o colégio Sacre Coeur de Jesus, o projeto original é de autoria do engenheiro e arquiteto Vicente Buffalo. A construção tinha capacidade de acomodar cerca de 300 alunos e contava com espaços destinados a atividades educacionais e religiosas. Em 1977, o tradicional Colégio Pitágoras assumiu o local e permaneceu em atividade até o final de 2021, seguindo presente, ainda hoje, na memória de quem o vivenciou.
O edifício original é um marco em Belo Horizonte, com importância local e regional, mesmo para aqueles que nunca o frequentaram, o que reforça a conexão entre o patrimônio cultural e a vida social da cidade. Embora tenha passado por algumas modificações ao longo do tempo, a edificação preservou a sua unidade arquitetônica e segue sendo um elemento paisagístico marcante, um respiro em meio a um ambiente urbano denso, contribuindo para a compreensão dos modos de construir e da evolução da arquitetura da cidade.
O estado geral de conservação do edifício era bastante satisfatório, especialmente considerando as décadas de uso educacional e o intenso fluxo de pessoas, além das adaptações voltadas à modernização. Após o tombamento, foram estabelecidas diretrizes de preservação com foco nos três blocos da edificação principal e na antiga capela. Essas diretrizes previam a preservação das fachadas e dos elementos ornamentais, a manutenção do desenho original dos telhados de telhas cerâmicas e a conservação de pisos, revestimentos e elementos notáveis, como gradis de ferro ornamentado, pisos de tacos de madeira, ladrilho hidráulico e granilite.
O novo Colégio Bernoulli resgata e preserva as características históricas e culturais do edifício original e vai além: revitaliza, reconfigura e moderniza a edificação e suas áreas externas para um novo ciclo de vida. A nova unidade tem uma área ampliada de aproximadamente 20.000 m², com capacidade para 2.000 alunos, abrangendo desde o Ensino Infantil até o Ensino Médio.
As diretrizes de intervenção foram divididas em três áreas distintas no terreno, que precisavam se integrar de forma harmoniosa para garantir o bom funcionamento da instituição. A primeira é a “Área de Preservação Permanente”, onde estão situadas as edificações tombadas. Essas estruturas passaram por restaurações e adaptações para atender às novas demandas institucionais, preservando suas características arquitetônicas originais. A segunda é a “Área Preservação Paisagística”, que valoriza suas características vegetativas e contemplativas, aprimorando a qualidade paisagística do ambiente. A terceira é a “Área de Expansão”, destinada à construção de novos anexos e equipamentos, que complementam as edificações tombadas e as áreas livres permeáveis e buscam uma integração harmoniosa de todo o conjunto.
Durante a reforma, as potencialidades do edifício foram reforçadas. As esquadrias originais, em madeira e ferro, foram restauradas ou complementadas de acordo com os modelos originais. O pátio central, por exemplo, passou a atuar como um espaço aglutinador, com novo tratamento paisagístico, reforçando a
presença da antiga capela, convertida em auditório, como um espaço simbólico e de referência visual no conjunto. Duas novas torres de circulação vertical, em estrutura metálica e vidro, reforçam a simetria do conjunto e garantem a acessibilidade necessária. As áreas internas com configurações e tratamentos estéticos diferenciados mereceram atenção especial, principalmente devido às demandas da preservação do patrimônio, sendo destinadas aos usos coletivos da escola, como Biblioteca, Auditório, Sala Multiuso e pátios.
Internamente, os espaços foram reestruturados, mantendo as modulações e ritmos da estrutura existente. O design de interiores e a sinalização refletem o conceito criado para o grupo Bernoulli, evoluindo em paralelo ao crescimento acadêmico dos alunos. Cada andar é distinguido por uma cor única e painéis gráficos educacionais que destacam a cultura local com ícones e elementos da cidade. A infraestrutura do teto foi deixada exposta, facilitando a manutenção e futuras adaptações, enquanto se integra harmoniosamente ao esquema de cores da escola.
O projeto eliminou as improvisações feitas ao longo do tempo, que descaracterizaram a arquitetura original da edificação, propondo intervenções cuidadosas que reforçam as qualidades da implantação geral, arquitetura, interiores e paisagismo da edificação existente. A ampliação da instituição causou o mínimo impacto na área tombada, por meio da demolição dos anexos atuais e sua substituição por novos elementos que dialogam com a escala e materialidade do edifício existente. A nova arquitetura é claramente contemporânea e seus elementos foram inseridos de maneira sensível e harmoniosa com o caráter tradicional do Colégio, atendendo às demandas das normas vigentes – como acessibilidade, proteção contra incêndio, entre outros – e às necessidades intrínsecas a uma instituição de ensino dos dias de hoje.
Dessa forma, o projeto combina tradição e inovação, respeitando o valor histórico do edifício enquanto cria espaços diversificados para o aprendizado contemporâneo. A nova unidade exemplifica como a arquitetura pode unir passado e futuro, oferecendo uma infraestrutura moderna que preserva a memória arquitetônica de Belo Horizonte, uma cidade jovem, famosa por apagar seu passado.