ESTADO DE MINAS - "Polo de Criatividade"

Postado dia 10 de março de 2012 em

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Profissionais mineiros de arquitetura e de design criam projetos inovadores

Reunidos em um mesmo espaço, eles têm atraído a atenção internacional

 

Júnia Leticia – Estado de Minas

Publicação: 11/03/2012 13:34 Atualização:
Quem passa pela Rua Raul Pompeia, no Bairro São Pedro, Região Centro-Sul de Belo Horizonte, e vê uma casa da década de 1920 não imagina que lá estão concentrados profissionais de arquitetura e de design considerados referência no Brasil e no exterior. O grupo, ainda sem nome, é formado pelas empresas BCMF Arquitetos, Hardy Design, MACh Arquitetos e Vazio S/A. Reunidos em um mesmo espaço desde 2008, eles apresentam as tendências na construção e a visão que levam para seus projetos.

O trabalho conjunto começou com a Hardy Design, das sócias Mariana Hardy e Cynthia Massote, e a MACh, dos arquitetos Mariza Machado Coelho e Fernando Maculan. A chegada da BCMF Arquitetos, dos sócios Bruno Campos, Marcelo Fontes e Silvio Todeschi, e da Vazio S/A, do arquiteto Carlos Teixeira, ocorreu um ano depois, no fim de 2009.

Bruno de Campos explica que, com expertises diversas em trabalhos colaborativos e multidisciplinares, é possível oferecer propostas completas de projetos urbanísticos e arquitetônicos em diversas escalas. “O resultado desse arranjo é uma ‘contaminação’ da criatividade na interseção das diferentes disciplinas, uma tendência e necessidade no atual cenário mercadológico”, revela.

A iniciativa prova que projetos benfeitos podem – e devem – ser realizados a várias mãos. O grupo, que congrega 38 profissionais, tem como um de seus grandes diferenciais a globalização da equipe, que tem experiências internacionais. O trabalho desenvolvido por eles tem chamado a atenção, como conta Marcelo Fontes, da BCMF. “É difícil ter uma semana em que não recebemos profissionais de diversos países interessados em parcerias, apresentar novos projetos ou simplesmente conhecer o espaço”, conta.

Além dos trabalhos individuais, o grupo tem se dedicado especialmente a duas grandes obras. Uma delas é a reforma do Estádio Governador Magalhães Pinto, o Mineirão, para a Copa do Mundo de 2014. Outro projeto é o desenvolvimento do Parque Científico e Tecnológico de Itajubá (PCTI), no Sul de Minas, coordenado pela universidade federal local, a Unifei. As quatro empresas farão os projetos urbanístico, paisagístico e arquitetônico do empreendimento, que, além de servir como forma de integração entre os meios acadêmico e empresarial, será um espaço de lazer e cultura para a cidade.

ESTRUTURA

Reitor da Unifei e coordenador de implantação do projeto, Renato de Aquino Faria Nunes conta que a BMFC Arquitetos venceu a licitação da universidade para fazer o projeto. “Depois de oficialmente contratada, tivemos o prazer de conhecer a estrutura organizacional e de parcerias da empresa.”

Nunes diz que a primeira fase está quase concluída. A segunda se refere ao desenvolvimento do parque, que será construído em uma área ambiental de 3 milhões de metros quadrados.

Atuação abrangente

Com projetos diversificados, o trabalho do grupo compreende arquitetura de interiores e construções, que incluem obras de grande porte

O desenvolvimento do Parque Científico e Tecnológico de Itajubá (PCTI) pela BCMF Arquitetos, Hardy Design, MACh Arquitetos e Vazio S/A (consórcio de profissionais de arquitetura e de design) tem sido, segundo os envolvidos, uma ótima experiência. Renato de Aquino Faria Nunes, reitor da Universidade Federal de Itajubá (Unifei), instituição que coordena o PCTI, a previsão é de que a primeira fase do projeto seja concluída ainda este mês. “Os resultados têm sido fantásticos. Cada empresa, com sua expertise, contribui para a criação dessa obra, que trará desenvolvimento científico e econômico para a cidade e para o estado”, diz Nunes.

Mas essa é apenas uma das áreas de atuação do grupo, que desenvolve um trabalho diversificado. “Os projetos abrangem desde arquitetura de interiores e edificações residenciais e comerciais (casas e prédios) até obras de grande porte (centros esportivos, estádios, centros comerciais, hospitais, indústrias, parques e intervenções urbanas)”, diz o sócio-diretor da BCMF, Bruno Campos.

Fernando Maculan lembra que o trabalho da MACh está comprometido, de modo mais abrangente, com a criação de ambientes urbanos de qualidade. “Isso é, não direcionamos as soluções a um público específico. Nossas áreas de atuação (MACh) compreendem projetos de edificações de fins culturais, intervenções no patrimônio histórico e cultural, planejamento urbano, entre outros.”

Com relação à Hardy Design, Mariana Hardy diz que o trabalho do design gráfico é mais focado nas demandas corporativas/empresariais, institucionais e de projetos culturais. “Atendemos desafios de design gráfico em todas as suas aplicações, de identidades à sinalização, passando por projetos editoriais e embalagens.”

ARTE

Arquiteto e diretor da Vazio S/A, Carlos Teixeira diz que não existe um perfil único no trabalho que desenvolvem, o que avalia como positivo. Segundo ele, além de atuar em áreas diferentes, oferecem um trabalho que não é comum na arquitetura. “Saímos um pouco dos projetos de casas, de interiores e do mercado imobiliário. A BCMF é especializada em grandes revitalizações públicas; a MACh, em projetos culturais; e a Vazio trabalha com edifícios residenciais, passando por casas até instalações artísticas ou obras efêmeras que esbarram na fronteira arte/arquitetura.”

Fora do lugar-comum Com cada escritório tendo a sua postura e seus profissionais especializados, o grupo foge aos padrões dos escritórios tradicionais, como observa Carlos Teixeira. “Há um grande incentivo à pesquisa, o que não bate com os limitadores de uma profissão tolhida pelo mercado local”, acrescenta.

Sem preconceitos, o trabalho de designers e arquitetos se inter-relaciona, como conta Bruno Campos. “A arquitetura sugere uma solução do design e vice-versa, numa espécie de ‘promiscuidade’ interdisciplinar saudável. Esse cruzamento pode gerar soluções híbridas e inovações inesperadas. As fronteiras ficam mais borradas e o trabalho mais íntegro e ambicioso, sem ‘apliques’ que não tenham a ver com os princípios ou a lógica do projeto.”

A partir dessa troca, a tendência é que as áreas se integrem. “Minha tese de mestrado começava justamente com a hipótese de que a arquitetura de interiores estava virando urbanismo (a partir de certa escala) e que urbanismo começava a virar interior (a partir de um certo nível de design). Sem dúvida, a ‘contaminação’ de disciplinas é uma condição contemporânea”, analisa Campos.

Segundo ele, quem ganha com essa junção é o design e a arquitetura brasileiros, já que o país é cheio de dualidades, contrastes, paradoxos e ambiguidades. “Faz parte do seu charme, com certeza, mas a paisagem urbana pode tornar-se uma mistura selvagem e uma bagunça completa. Tentamos reconhecer e lidar com isso sem ser muito literais ou rígidos, ou seja, sem ‘celebrar’ artificialmente ou tentar ‘consertar’ na marra essa condição.”

PALAVRA DE ESPECIALISTA » Visibilidade internacional

Bruno Campos – sócio-diretor da BCMF Arquitetos
Um dos grandes diferenciais do grupo sempre foi a globalização da equipe. As experiências internacionais são essenciais para a excelência e a inovação nos trabalhos desenvolvidos. Além disso, as quatro empresas são participantes ativas do programa de intercâmbio profissional do International Association for the Exchange of Students for Technical Experience (Iaeste). Já trabalharam por aqui profissionais e estudantes da Alemanha, Áustria, República Tcheca, Irlanda, Tunísia, Eslovênia, Croácia, Espanha, Portugal e Grécia, entre outros países. Os brasileiros da equipe da casa também já foram para temporadas de intercâmbio no exterior, para Israel, Chile, França, Itália, Espanha, Finlândia, Alemanha e Dinamarca, e depois voltaram. Toda essa diversidade e bagagem de experiências criou não só uma dinâmica e uma sinergia permanente por meio de uma vasta rede de contatos internacionais, mas deixou marcado no DNA do grupo e dessa nova geração a cultura da globalização. A visibilidade internacional cresceu muito por causa da nossa participação nesses megaeventos esportivos e o Brasil está no “radar” das empresas multinacionais de serviços e de construção.